DataFolha revela queda de Dilma

A mais recente pesquisa de opinião da DataFolha, divulgado nesta data (dia 6), sobre o governo Dilma revela que a presidente conseguiu o primeiro lugar no pódium dos presidentes da República mais impopulares, deslocando para o segundo lugar ex-presidente e atual senador Fernando Collor, que desde 1992 se mantinha na liderança. Dilma conseguiu 71% de reprovação, contra 68% obtido por Collor na véspera de sofrer o impeachment. Na pesquisa anterior, realizada em junho, 10% das pessoas ouvidas consideravam a atuação da presidente ótimo e boa, mas agora esse índice despencou para 8%. Dilma aproveitou o horário do PT, que foi ao ar nesta noite, para dizer que sabe enfrentar “pressões e até injustiças”.
Os resultados do DataFolha, segundo assessores com acesso ao Palácio do Planalto, não abalaram a autoestima da presidente, que atribui a impopularidade às medidas de ajuste fiscal e aos seus reflexos na atividade econômica. O aumento da impopularidade da presidente estimulou novas iniciativas a favor do impeachment entre parlamentares oposicionistas, mas lideranças políticas tradicionais acham que só os números de uma pesquisa de opinião não são suficientes para o impedimento de um presidente da República. A expectativa agora se volta para as manifestações, que estão sendo convocadas para o dia 16.

Pesquisa

Os resultados da pesquisa da DataFolha, segundo alguns parlamentares da oposição, confirmam esse sentimento de desesperança, que atingiu a maior parte da população. “As mentiras da campanha eleitoral não se sustentam mais e o governo não consegue conter a deterioração da economia”, explicaram.
A questão do impeachment da presidente Dilma na pesquisa da DataFolha chegou a surpreender porque aumentou o número de pessoas consultadas a favor do afastamento da presidente. Questionados se o Congresso deveria abrir um procedimento formal de impeachment, 66% dos entrevistados disseram que sim. No levantamento anterior, realizado em abril, eram 63%.
Também aumentou a quantidade de pessoas que acham que Dilma será retirada do cargo, independentemente de suas opiniões sobre um eventual processo de impeachment. Em abril, 29% diziam que a presidente seria afastada do Planalto. Agora, foram 38%.
As taxas apuradas pelo Datafolha em relação à questão do impeachment também são consistentes independentemente da região do país. No Centro-Oeste, 74% acreditam que o Congresso deveria fazer tramitar um pedido de afastamento. Sul e Sudeste registram 65%. No Nordeste, o percentual é maior, porém dentro da margem de erro, com 67%. Também não há diferença relevante em relação a idade ou o sexo dos entrevistados. Os resultados tanto entre homens como entre mulheres repetem o percentual de reprovação geral, de 71%.
O que chama atenção nos resultados da pesquisa é homogeneidade em relação às regiões do país, com índices em patamares semelhantes em todas elas. Nos locais em que seu partido, o PT, costuma ter mais reprovação, a presidente registrou taxas levemente piores. A maior taxa de reprovação foi registrada na região Centro-Oeste, 77%. No Sudeste e no Sul, 73% dos entrevistados disseram que o governo é ruim ou péssimo.
Mesmo no Nordeste, região do país onde o PT costuma ter melhor desempenho eleitoral, a aprovação de Dilma é baixa. Apenas 10% dos consultados pelo Datafolha afirmaram que o governo é ótimo ou bom. Outros 66% entendem que a administração é ruim ou péssima.

Derrota

A contínua queda dos índices de popularidade da presidente Dilma, aliada ao agravamento das dificuldades econômicas, tem se refletido nas decisões do Congresso Nacional. O governo tem sofrido constantes derrotas no Congresso, em especial na Câmara, como ocorreu na noite de ontem (dia 5), durante a votação da PEC 443 que beneficia servidores da Advocacia-Geral da União e das procuradorias estaduais. Ela vincula o salário dessas carreiras a 90,25% do ganho dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Também terão reajustes delegados da Polícia Federal e da Polícia Civil dos Estados. A regra se aplica ainda a procuradores municipais nas capitais e municípios com mais de 500 mil habitantes. Os reajustes variam de 34% a 59%. O salário inicial mais baixo passa de R$ 16.830 para R$ 26.125. O ganho em final de carreira vai de R$ 22.805 para R$ 30.471, próximo ao que é pago a Dilma (R$ 30.934,70).
Apesar dos apelos do governo, que se preocupa com o aumento dos gastos públicos, a proposta foi aprovada por 445 votos a 16. A votação dos destaques, que alteram alguns pontos da proposta, será feita na terça-feira, dia 6. Esses números demonstram que nem a base parlamentar de apoio ao governo, incluindo o PT, o principal partido da base, votou com o governo. A equipe econômica estimada em R$ 2,45 bilhões o impacto nas contas públicas se aprovada a PEC, que foi aprovada em primeiro turno. Não há estimativa para os estados e municípios, mas os líderes falavam em mais de R$ 10 bilhões. A PEC, como proposta de alteração constitucional precisa ainda passar por outra votação na Câmara, em segundo turno. Se aprovada, será encaminhada ao Senado, onde terá que passar também por dois turnos de votação.

Impeachment

O presidente do Senado, Renan Calheiros, mesmo reafirmando a independência do Senado, tem adotado uma postura mais conciliatória preocupado com o agravamento do quadro econômico. — Não haverá no Congresso Nacional ‘pauta-bomba’. Pelo contrário, nós estamos preocupados em desarmar a bomba que está posta aí na economia. Vou me pautar, sempre, como presidente do Congresso, um Poder independente e autônomo, que quer colaborar, com o olhar da sociedade — afirmou Renan.
Renan tem procurado ampliar o diálogo com todas as lideranças políticas no Senado, mesmo que seja a oposição. Na noite de ontem (dia 5), por exemplo, foi convidado e aceitou um convite para jantar na casa do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), do qual participaram também os senadores Aécio Neves (PSDB-MG), José Serra (PSDB-SP) e o líder do partido Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). Renan estava acompanhado dos senadores Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Romero Jucá (PMDB-RR). O agravamento da crise política e a possibilidade de abertura de um processo de impeachment contra a presidente dominou as conversas.
Os integrantes dos dois partidos afirmaram que o governo está “perdido”, mas chegaram a um consenso de que a tese do impeachment “não está madura”, segundo relatos feitos à Folha por quatro participantes do jantar. Criticaram também as manobras políticas para tentar acelerar a abertura de um processo de impedimento. Eles afirmaram que seria melhor esperar as manifestações do dia 16 e o julgamento das pedaladas fiscais no Tribunal de Contas da União.
Serra afirmou que os deputados estão cometendo “loucuras fiscais” ao aprovar projetos que aumentam os gastos públicos e reajustam os salários de servidores acima da inflação. O tucano concordou com o senador Romero Jucá (PMDB-RR) ao prever o agravamento da crise econômica nos próximos meses. Os dois traçaram um cenário de alta do desemprego e paralisação dos investimentos privados.

Temer

Nesse esforço para conter o agravamento da crise política e econômica, o vice-presidente Michel Temer fez ontem um apelo público ao dizer que o Brasil precisa que “alguém tenha a capacidade de reunificar” e evitar “uma crise desagradável para o País”. A declaração, em tom emocionado, foi dada após uma tensa reunião com partidos aliados, num momento em que o governo reconhece ter perdido o controle da base e não consegue fazer a economia sair da recessão, agravada pelas investigações da Operação Lava Jato.
“Eu queria fazer uma declaração precisamente em face das várias autoridades do Legislativo e do Executivo que passam aqui pelo meu gabinete. A declaração eu quero fazer, na verdade, aos vários setores da sociedade brasileira”, iniciou o vice-presidente.
“Na pauta dos valores políticos temos, muitas vezes, a ideia do partido político como valor, do governo como valor, e do Brasil como um valor. Mas nessa pauta de valores o mais importante é o valor Brasil, o valor País, e estamos pleiteando exata e precisamente que todos se dediquem a resolver os problemas do País”, disse Temer. “Não vamos ignorar que a situação é razoavelmente grave, não tenho dúvidas de que é grave, porque há uma crise política se ensaiando, uma crise econômica que está precisando ser ajustada mas, para tanto, é preciso contar com o Congresso Nacional, com os vários setores da nacionalidade brasileira”, advertiu.

Redação Brasil News

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