Desemprego mais alto e inflação geram desconfiança e agência coloca o Brasil na área de risco

O Brasil só vem acumulando notícia ruim nesses primeiros quatro meses de 2015 e nesta quinta-feira, dia 9, IBGE divulgou que a taxa de desemprego no trimestre encerrado em fevereiro subiu e fechou em 7,4%, contra 6,8% no trimestre anterior, encerrado em janeiro. Na área da educação, a Unesco – órgão ligado a ONU – mostrou que o Brasil não conseguiu cumprir quatro dos seis compromissos assumidos no ano 2000 com aquela instituição, voltados a melhora da qualidade educacional do brasileiro. E, nos Estados Unidos a agência de classificação de riscos Fitch Ratings reduziu de estável para negativa a classificação de risco do Brasil, mas manteve a nota BBB que preserva o grau de investimento.

ONG norte-americana Social Progress Imperative (SPI) mostrou que o país ocupava, em 2014, a 46º, entre 133 países, no ranking de desenvolvimento social e ambiental, e que agora está na 42º, mas adverte que o fato de ter subido quatro colocações na escala não significa que o país avançou na mesma proporção. O levantamento deste ano avaliou um número maior de países e de variáveis, segundo a SPI. A divulgação do IPCA de março esta semana trouxe outro informação negativa,  o aumento da inflação. A taxa acumulada nos primeiros três meses do ano atingiu 3,83%, considerada a maior para um primeiro trimestre desde 2003.

DESEMPREGO AUMENTA

A taxa de desemprego no trimestre encerrado em fevereiro foi de 7,4%, informou o IBGE nesta quinta-feira, pelos números da Pnad Contínua Mensal. A taxa de desemprego no Brasil tinha sido de 6,8% no trimestre encerrado em janeiro. No trimestre encerrado em fevereiro do ano passado, também tinha sido de 6,8%. Entre setembro e novembro, o desemprego havia ficado em 6,5%.

Considerando todos os trimestres móveis, a taxa de desemprego entre dezembro e fevereiro é a maior desde o trimestre encerrado em maio de 2013, quando fora de 7,6%. Mas é menor que aquela terminada no trimestre encerrado em fevereiro de 2012, quando havia sido de 7,7%. O aumento da desocupação ocorreu, segundo o IBGE, porque mais pessoas saíram em busca de emprego.

A renda de quem já está no mercado de trabalho, porém, cresceu: o rendimento médio real (acima da inflação) no trimestre móvel encerrado em fevereiro foi de R$ 1.817, uma alta 1,1% em relação ao mesmo período do ano passado e de 1,3% frente ao trimestre encerrado em novembro.

EDUCAÇÃO FALHA

Na área da educação, a UNESCO divulgou nesta data, dia 9, relatório mostrando que o Brasil avançou pouco na área nos últimos 15 anos. Das seis metas que o Brasil se comprometeu em cumprir com mais 163 países, em 2000, fixadas no “Marco de Ação de Dakar, Educação Para Todos (EPT): Cumprindo nossos Compromissos Coletivos”, o Brasil só conseguiu cumprir duas. Os únicos objetivos cumpridos pelo Brasil foram o alcance da educação primária universal (primeiro ciclo do ensino fundamental, do 1º ao 5º ano), principalmente para meninas, minorias étnicas e crianças marginalizadas; e o alcance da paridade e a igualdade de gênero – ou seja, a mesma proporção de homens e mulheres nas escolas.

As outras quatro metas não foram alcançadas, “expandir a educação e os cuidados na primeira infância, garantir acesso de jovens e adultos à aprendizagem, reduzir em 50% o analfabetismo e melhorar a qualidade da educação. Intitulado “Relatório de Monitoramento Global de EPT”, o documento destaca que, no Brasil, grandes diferenças em oportunidades educacionais estão associadas às disparidades entre meio rural e urbano e à “desigualdade de empenho e investimento do governo no setor”. Embora elogie programas como o Bolsa Família, o documento sustenta que a iniciativa não cobre totalmente os extremamente pobres e, portanto, não “enfrenta os desafios” dessas pessoas.

Entre os objetivos não cumpridos pelo Brasil preocupa o não cumprimento da meta de expansão da educação infantil e os cuidados na primeira infância, especialmente para as crianças mais vulneráveis – segundo o parâmetro adotado pela Unesco. O critério de educação infantil e cuidados na primeira infância no Brasil abrange a educação de 0 a 5 anos, ou seja, creche e pré-escola.

“No caso do Brasil, até o ano de 2012, segundo últimas informações obtidas pela Unesco, não conseguimos alcançar os 80% da taxa de matrícula na educação infantil”, diz Rebeca, referindo-se ao indicador da pré-escola (4 a 5 anos). Já a conclusão dos estudos no ensino médio é outro grande desafio. O relatorio aponta que o aluno entra no ensino médio, mas não sai dele e recomenda que sejam ampliadas as chances aos mais pobres para ingressarem nessa etapa de ensino.

VIOLÊNCIA É DESTAQUE

A ONG norte-americana Social Progress Imperative, que mantém em seus quadros de direção representantes da Havard Business School, da revista inglesa The Economist, do Rockefeller Foudation, da Massachusetts Institute of Techonology, além  de outros, divulgou também nesta data, dia 9, o Índice de Progresso Social (IPS), conhecido como ranking global de desenvolvimento social e ambiental. Numa lista de 133 países, o Brasil aparece na 42ª posição na edição de 2015. Os três primeiros lugares do ranking geral são ocupados, respectivamente, por Noruega, Suécia e Suíça. Em último, aparece a República Centro-Africana. Os Estados Unidos estão em 16º e o Reino Unido em 11º.

O Índice de Progresso Social avalia indicadores divididos em três grandes áreas: necessidades humanas básicas, fundamentos de bem-estar e oportunidades. Na análise dos resultados, o SPI observa que, embora o Brasil apareça no grupo considerado de países com “alto-médio progresso social”, fica apenas na 62ª posição no quesito educação superior e na 122ª em segurança social. Neste último item, o país é considerado inseguro não apenas pelo alto índice de homicídios e crimes violentos, mas também em decorrência do alto número de mortes no trânsito. Quanto à posição em educação superior, a conclusão do estudo é que uma brasileira tem, em média, três anos a menos de escolaridade do que uma mulher dos Emirados Árabes, por exemplo.

A classificação, na 42º posição, põe o Brasil à frente dos demais países do Brics, o grupo que reúne as maiores economias emergentes (China, Índia, Rússia e África do Sul, além do Brasil). Mas, se comparado aos países da América do Sul , estão em melhores posições que o Brasil o Uruguai (24º), Chile (26º) e a Argentina (38º). Na América Latina os piores indicadores foram registrados no caso da Venezuela (72º), Cuba (84º) e Guiana (87º). Na América do Sul

No G-20, que em tese reúne as 20 nações mais ricas do mundo (Estados Unidos, França, Austrália, China, Canadá, Itália, Japão, México, Índia, Indonésia, Reino Unido, Rússia, Turquia, Argentina, Arábia Saudita, Alemanha, África do Sul, Coreia do Sul, União Europeia, além do Brasil) o Brasil está na dianteira de oito países, como a Rússia, Turquia, China e México. Nos mês passado a mídia nacional divulgou que entre os países do G-20, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil teve um dos piores desempenhos em 2014. Só ficou à frente de Itália, cuja economia retraiu 0,4% em 2014, e do Japão, que teve crescimento zero.

RISCO BRASIL

Ao rebaixar a classificação de estável para negativa, a agência Fitch Ratigns aponta para a contínua fraqueza econômica no país, maior desequilíbrio macroeconômico, deterioração fiscal e um aumento significativo do endividamento do governo. Esses fatores estariam, em sua avaliação, “aumentando a pressão sobre o perfil de crédito soberano”.

A Fitch manteve o rating brasileiro em “BBB”, ou seja, ainda grau de investimento — chancela dada a países considerados seguros para investir. Mas a perspectiva negativa significa que, entre 12 e 24 meses, a chance de rebaixamento é superior a 50%. As outras duas agências de avaliação de riscos dos Estados Unidos, a Standard & Poor’s e a Moody’s, sustentam posições semelhantes em relação ao Brasil.

Segundo a Fitch, o governo iniciou o processo de ajuste macroeconômico “para aumentar a credibilidade e confiança política”, mas os riscos de desaceleração relacionados à aplicação das medidas persistem, “especialmente no contexto de um ambiente político e econômico desafiador”. “Choques internos e externos adicionais poderiam minar o ritmo e o alcance do processo de ajustes”, diz a agência.

 

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