Ser um kamikaze japonês … e ter escapado da morte

“Assim que nós terminamos nosso treinamento de pilotos, cada um recebia um pedaço de papel com três opções: ser voluntário com entusiasmo (para ser um kamikaze), ser somente um voluntário ou declinar”, conta Hisao Horiyama 92 anos. Na época, ele tinha 21 anos. Era final do ano de 1944 e ele se ofereceu, relata o correspondente do Guardian, em Tóquio, em um vídeo.

Ele conta como ele se sentia ligado “pessoalmente” ao Imperador Hirohito: “Eu sabia que não tinha outra escolha a não ser morrer por ele”, lembra.

“Morrer era o cumprimento final do nosso dever, pois foram ordenados a não voltar. Sabíamos que, se voltássemos, nossos superiores estariam com raiva”, diz o piloto.

Ele explica que por ser um péssimo aluno na escola, ele queria provar a seu pai que não era um vagabundo.

Ele participara de uma missão suicida abortada devido a danos mecânicos.

Antes de janeiro de 1945, mais de 500 aeronaves já tinham saído para missões suicidas. No momento da capitulação do Japão, no dia 2 de setembro de 1945, mais de 3,8 mil pilotos japoneses morreram no caminho do “vento divino” (kamikaze, em japonês). “Nós não pensamos nisso: morrer”, lembra Hisao Horiyama. “Estávamos acostumados a esconder nossas emoções, e se morrêssemos, nós sabíamos que era por uma causa que valia a pena.”

“Eu senti o sangue escorrendo no meu rosto”

Outro homem-bomba, Takehiko Ena, também de 92 anos, lembra do momento que lhe foi dito que era escolhido para participar da próxima missão suicida. “Eu senti o sangue escorrendo pelo meu rosto. Os outros pilotos e eu estávamos nos parabenizando, mas não havia nada para comemorar.”

Na primavera de 1945, a vitória japonesa parecia estar indo embora para sempre.

Sua missão? Pilotar um avião com uma bomba de 800 kg, fixado abaixo da fuselagem da aeronave. Mas, ao final da guerra, as aeronaves utilizadas pelo Japão eram ultrapassadas, alguns têm dificuldade em atingir seu objetivo, até mesmo para ligar os motores.

Depois de duas tentativas falhadas devido a razões técnicas, Takehiko Ena – estudante de economia e com 20 anos de idade – decola em um bombardeiro de três lugares no 11 de maio de 1945. Ele é acompanhado por um co-piloto de 20 anos e um oficial de comunicação de 18 anos: “Estávamos aterrorizados.”

Da mesma maneira que para as tentativas anteriores, um problema mecânico abortou a missão. Os três homens conseguiram pousar na água e nadar até uma ilha vizinha. Eles ficaram dois meses e meio antes de serem resgatados por um submarinho.

Hoje, o avô conta como ele ficou aliviado quando a guerra terminou e estava feliz “que nós não fizemos de novo uma guerra, o povo japonês deve ser grato por isso. Faz setenta anos, que estamos protegidos por uma constituição pacífica”, comemora.

Pierre Pichoff

Escritor, colabora para diversos veículos de comunicação no Brasil, como O Estado do Maranhão e o Matheus Leitão News.

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