Chico Mendez : “a maioria da minoria é suficiente para que você projete a sua identidade”
Integrante da nova geração de marqueteiros políticos pós-Lava Jato, Chico Mendez avalia que a crise de representatividade no Brasil é resultado da descrença que a população tem nos partidos políticos. “Temos duas maneiras de buscar a gênese deste processo. Tem uma teoria mais batida mas que faz sentido que é a do fim da era da grande moderação. O movimento da globalização no início dos anos 90 não trouxe grandes melhorias para a vida das pessoas”, aponta, em entrevista para o jornal O Estado de S. Paulo, publicada em 6 de maio.
Na primeira hipótese, destaca, “havia toda a expectativa de que a quebra de barreiras, um mundo mais livre e mais próximo seria a grande solução dos problemas da humanidade. Aí veio a crise de 2008 e a recuperação da crise de 2008 que deram o lastro para o ressurgimento e força do que o (Francis) Fukuyama chama de política do ressentimento. Começaram a tirar da pauta a discussão entre direita e esquerda que se dava em torno de medidas econômicas e começam a surgir as bandeiras identitárias. A direita e a esquerda começaram a se reagrupar não mais em cima da teoria marxista de distribuição, mas de políticas identitárias e representação de grupos.”
Já a segunda teoria, destaca o marqueteiro, a qual, inclusive, defende, diz que que eu “a gente está 100% aqui (aponta para o celular). Está tudo aqui. E quando está tudo aqui na palma da mão, você não depende das instituições para conseguir as coisas”, pontua. Para Chico Mendez, “quando você começa a fazer isso a partir do seu próprio instinto, seus próprios contatos, de maneira muito mais rápida e sem burocracia, as instituições perdem valor e representatividade.”
Como exemplo da segunda teoria, o marqueteiro destaca a eleição de Jair Bolsonaro, que alavancou sua candidatura por meio das redes sociais para só depois procurar um partido. “Lá fora, principalmente nos países europeus, os movimentos têm legitimidade política para disputar eleição. Aqui, não. É diferente. Os caminhos, a rapidez e a naturalidade explicam muito dos movimentos que funcionam e das mudanças meramente estéticas. No caso do Brasil mudar nome de partido é absolutamente estético”, diz.
Além disso, argumenta o marqueteiro, Bolsonaro e sua equipe de marketing entenderam que “hoje, para você se manter, não é preciso ter a maioria absoluta. Você só precisa da maioria da minoria. Ele sacou isso. Os temas morais mobilizam muito mais.”
Outro exemplo do poder de um smartfone, salienta, é a economia compartilhada. “Ninguém precisa mais da prefeitura chancelando se o taxista é bom ou não. Eu tenho uma rede de contatos de milhões de pessoas que chancelam outras pessoas. Então eu parei de confiar na instituição e comecei a confiar muito mais no outro. Essa rede de relacionamento fez com que as instituições perdessem relevância. Eu não preciso mais ir no cartório para alugar um apartamento, posso fazer a partir de um aplicativo.”
Chico Mendez e o Branded content
Na avaliação do marqueteiro Chico Mendez, os partidos políticos perderam o sentido. “As pessoas não precisam mais do estamento partidário para fazer parte da política nem para escolher o caminho que ela vai seguir”, afirma. E, para superar essa crise instalada nas legendas, observa Chico Mendez, é preciso fazer o chamado “branded content” (marketing de conteúdo): produzir conteúdo próprio de forma apartidária. “Você atrai audiência quando toca em temas morais, discussões que gerem algum tipo de burburinho na sociedade. Os partidos têm legitimidade para isso, independentemente do lado em que eles estejam.”
Ainda sobre a eleição de Jair Bolsonaro, Chico Mendez acredita que em termos de governabilidade, o atual presidente do Brasil é o caos no método, como escreveu o Marcos Nobre (na revista piauí). “Não deixa de ser um jeito de enxergar a opinião pública, um jeito quase iconoclasta. Neste sentido ele tem muito sucesso”. E completa: “a maioria da minoria é suficiente para que você projete a sua identidade.”