Dólar cai com a saída do Banco Central do mercado de câmbio

A crescente valorização do dólar frente ao real, que reflete as dificuldades internas da economia brasileira, agravada por fatores externos como o recente conflito no Iêmen e a recuperação da economia norte-americana, tem preocupado uma boa parcela da sociedade brasileira, desde empresários, que dependem do dólar para suas operações, aos turistas que planejavam viajar ao exterior, mas no mercado internacional todas as atenções se voltam agora para as discussões que estão ocorrendo nos EUA em torno do futuro do dólar. Uma discussão que não se dá nas bolsas de valores ou nas casas de câmbio, mas entre os defensores dos direitos das mulheres, que querem o rosto de uma mulher estampado nas notas de 20 dólares, daqui a quatro anos, quando se comemora o 100º aniversário da 19º emenda, que deu às mulheres o direito ao voto.

Enquanto isso, no mercado brasileiro de câmbio está absorvendo com certa tranquilidade a decisão do Bando Central de encerrar nesta data, dia 26, o programa de venda diária de dólares, que este ano estava movimentando por dia US$ 100 milhões. Os operadores lamentam o fim do que chamavam de “ração diária do BC”, mas acham que o mercado se ajustará rapidamente a um câmbio mais livre. Na verdade o que levou o BC a tomar esta decisão, considerada ousada, foi a constatação de que a valorização do dólar vinha acumulando perdas para o BC, que nos últimos 20 meses em que tentou conter a alta volatilidade do dólar prejuízo é de R$ 64,5 bilhões. Nesta data (26), a moeda americana à vista, após operar volátil ao longo do dia, o dólar fechou em queda de 0,31% frente ao real.

SEM MEDO DO DÓLAR

O fim do programa de “rações diárias do BC” já era esperado e o mercado, segundo analistas de corretoras de câmbio, deve reagir de forma tranquila à decisão do BC, mesmo porque o “os swaps cambiais que vencerão a partir de 1º de maior deste ano serão renovados integralmente, “levando em consideração a demanda pelo instrumento e as condições de mercado”, explicou o BC em nota distribuída no mercado. Os leilões de swap cambial são uma espécie de troca: o BC oferece às instituições financeiras a chance de trocar o risco da variação do dólar pela da taxa de juros (Selic). Ou seja, o BC assume o risco pela oscilação da moeda americana, enquanto o mercado fica com o da taxa de juros. Essa ajuda significa que o BC oferece proteção (hedge) contra a variação do câmbio. O estoque desses contratos em poder do BC é de quase US$ 115 bilhões.

Uma característica do mercado de câmbio é a intensa aversão ao risco e isso acaba influenciando todos os segmentos do mercado e nesta data, 26, à escalada da tensão no Oriente Médio foi o fator de preocupação. Na madrugada desta quinta-feira, 26, ao menos 13 civis morreram em ataques realizados pela força aérea da Arábia Saudita contra os rebeldes xiitas em Sanaa, capital do Iêmen. O ataque deve aumentar os atritos com o Irã, país de maioria xiita que a Arábia Saudita acusa de ser o responsável por fomentar as forças rebeldes no Iêmen.

A recente ofensiva rebelde provocou o colapso do governo sunita de Abdurabuh Mansur Hadi, grande aliado dos sauditas na região. As principais bolsas europeias – Paris, Londres, Frankfurt e o índice de referência Euro Stoxx – fecharam em baixa. O mercado internacional de petróleo, o barril do tipo Brent, registra valorização de 5,22%, aos US$ 59,41 — maior valor em duas semanas e o dólar no mercado internacional subiu em relação a 21 de 24 moedas de países emergentes, segundo dados da agência internacional Bloomberg.

Na visão do BC a alta do dólar no mercado brasileiro, que pode ocorre com o fim das “rações diárias”, não chega a ser uma preocupação e o mercado calcula que a moeda norte-americana chegará ao fim deste ano cotada a R$ 3,15. O BC não vê risco do dólar mais caro contribuir para o aumento da inflação porque a economia está em retração.

DÓLAR MENOS MACHISTA

A análise de agências internacionais de análise de risco, com base em quatro indicadores — saldos em conta corrente, dívida externa total, pagamento da dívida externa em no curto prazo frente às reservas cambiais e parcela da dívida em moeda estrangeira na dívida total do governo — a Turquia é o país mais vulnerável à desvalorização da moeda. Chile e Brasil aparecem em seguida. “No Brasil, onde a inflação é elevada, a pressão externa impede a flexibilização da política monetária e limita a habilidade dos políticos para sustentar o crescimento”, afirma a Moody’s em documento publicado no Financial Times.

Esse mercado, caracterizado pelo nervosismo, vai se surpreender quando as notas de US$ 20.00 começarem a circular sem a tradicional imagem do sétimo presidente dos Estados Unidos, Andrew Jackson, o que pode se tornar realidade dentro de quatro anos. O grupo Women on 20s (W20) começou uma campanha para acabar com a predominância machista no papel moeda em circulação dos Estados Unidos e no mundo. O Banco da Inglaterra foi o pioneiro e em 2013, substituiu a imagem de Charles Darwin das notas de 10 libras pela escritora Jane Austen.

As candidatas a esse privilégio de ser a primeira mulher a ter sua imagem numa nota de dólar são muitas. Segundo o site da organização na Internet (www.womenon20s.org) a lista tem 15 personalidades.

Entre elas estão Rosa Parks (1913-2005), que lutou pelos direitos civis e se negou a dar seu assento em um ônibus a um homem branco; Margaret Sanger (1879-1966), disseminadora do termo controle de natalidade e que foi presa por divulgar informações sobre contracepção; e Eleanor Roosevelt (1884-1962), que redefiniu o papel da primeira-dama, escrevendo colunas em jornais e participando de programas de rádio, sempre a favor dos direitos civis e das mulheres, mesmo que tivesse que se opor às políticas de seu marido Franklin Delano Roosevelt. O grupo espera contar com a participação de ao menos 100 mil pessoas para, assim, pressionar o governo a alterar a imagem da nota de US$ 20 e escolher a figura feminina que deve ocupar o lugar que hoje é de Andrew Jackson.

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