Inflação dispara em março e IBGE põe a culpa na energia elétrica, que subiu 22,08%
O chuchu, o quiabo, o tomate já foram grandes vilões da inflação e quando o consumidor já se imagina livre dos sobressaltos da inflação, considerada a maior inimiga das finanças da família, especialmente as de menor poder de renda, surge um novo vilão até então ignorado: a energia elétrica. Levantamento pelo IBGE indica que mais da metade da alta do IPCA do mês de março, que subiu 1,32% em relação a fevereiro, ficou por conta da energia elétrica, cujo aumento médio de 22,08%. Nos três primeiros meses do ano, o índice acumulado já é de 3,83%, considerada a maior para um primeiro trimestre desde 2003. Em doze meses, a inflação acumulada é de 8,13%, muita acima da meta que é de 6,5%.
O retorno da inflação vem assombrando o consumidor brasileiro desde o ano passado, por conta dos sucessivos aumentos da energia elétrica. No primeiro trimestre de 2015, a conta de luz subiu 36,34%, segundo o IBGE. Em 12 meses, encerrados em março, o consumidor teve que amargar uma alta de 60,42% na conta de luz. O custo foi agravado com a criação das bandeiras tarifárias (verde, amarelo e vermelho), que indica o custo da energia pela forma de geração. A bandeira vermelha é aplicada quando há uso intensido de termelétricas para geração de energia, muito mais onerosas que as hidrelétricas. A bandeira tarifária vermelha, vigente desde 2 de março, sofreu um reajuste de 83,33%. O usuário da energia paga a mais R$ 5,50 por cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumido.
PERDAS EM APLICAÇÕES
A inflação do primeiro trimestre de tão elevada funcionou como uma espécie de “buraco negro” da rentabilidade para a maior parte dos investimentos no período. O índice oficial de inflação para este ano, segundo estimativas do mercado coletadas pelo Banco Central (BC) no boletim Focus, deve alcançar 8,20%. Esse comportamento se explica, segundo analistas de corretoras, porque o forte nível de subida de preços, neste início de ano, reflete principalmente a alta de tarifas como energia elétrica, água e transportes e os aumentos de combustíveis, e deve arrefecer ao longo do ano. Essa tendência já se observa nos resultados do Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S), desacelerou de 1,41% na quarta quadrissemana de março, para 1,22% na primeira quadrissemana de abril, informou nesta quarta-feira a Fundação Getulio Vargas (FGV).
Com a taxa básica de juros atualmente em 12,75% ao ano e com perspectiva de, ao menos, mais uma elevação da Selic pela frente, o CDI deve ganhar sem esforço do IPCA no fim de 2015. De qualquer modo, o nível de inflação preocupa. se confirmada a estimativa atual para o IPCA, de 8,20% no fim do ano, o ganho real vai ficar comprimido. A poupança, por exemplo, fecharia 2015 com rendimento negativo, caso a taxa Selic se mantenha em 12,75%, já que essa taxa é um dos componentes para a correção das cadernetas.
INFLAÇÃO EM MARÇO
O IPCA mede a inflação para as famílias com rendimentos mensais entre um e 40 salários mínimos, que vivem nas regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Vitória, Brasília, e nos municípios de Goiânia e Campo Grande.
A maior alta do IPCA ocorreu na região metropolitana de Porto Alegre, que apresentou aumento de 1,81% no mês. Campo Grande (1,79%), Curitiba (1,69%), Fortaleza (1,57%) e Belo Horizonte (1,48%) são as outras cinco regiões metropolitanas com os maiores índices.
No caso de Porto Alegre, a conta de luz exerceu grande pressão, subindo 27,21% – o ônibus urbano também contribuiu para a alta da taxa (7,97%). No Rio de Janeiro, a variação refletiu também o reajuste anual de 34,91% em uma das concessionárias de energia. A região metropolitana teve inflação de 1,35% no mês de março.
Em São Paulo, o IPCA também acelerou de fevereiro para março, somando alta de 1,31%. No primeiro trimestre deste ano, a inflação na Grande São Paulo chega a 4,12%, segundo o IBGE. No acumulado de 12 meses o índice bate em 7,83%. Os menores índices foram os de Recife (0,56%) e Belém (0,58%). Na região pernambucana, o reajuste da energia elétrica foi o menor registrado entre todas as regiões, o que evitou uma forte elevação do índice. Já na região metropolitana do Pará, os alimentos consumidos em casa ficaram em 0,17%, bem abaixo da média nacional de 1,17%, o que também segurou o IPCA.