Brasil pode afastar recessão de 2014 com a revisão do PIB feita pelo IBGE

A revisão de cálculo do PIB brasileiro, que é a soma de todos os bens produzidos no país em um ano, feita pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) contribui para melhorar os índices de crescimento, nos anos 2010 e 2011 e pode salvar 2014 de uma recessão, evitando um PIB negativo como era esperado, mas acaba trazendo dificuldades adicionais para o governo. As centrais sindicais, por exemplo, já se movimentam para pedir a revisão do cálculo dos valores do salário mínino referente aos anos com PIB revisado para cima e, em 2015, o governo terá que aumentar os cortes nos gastos públicos para atingir a meta de 1,2% do PIB. Ou seja, se o PIB é maior a economia terá que ser maior. Estima-se que o corte total previsto em R$ 66 bi passará para R$ 71 bi.

Técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) explicaram que revisão do PIB compreendeu o período entre 2000 e 2011 e destacam que até 2010, a diferença não foi significativa. Mas, no caso de 2011, o crescimento foi bem maior que o anunciado inicialmente: passou de 2,7% para 3,9%. Como o PIB serve de indicador de reajuste do salário mínimo, o aumento salarial seria bem maior se levado em conta o novo número.

Em valores correntes o PIB de 2011 foi revisado de R$ 4,143 trilhões para R$ 4,375 trilhões. Já o PIB de 2010 foi revisto de R$ 3,770 trilhões para 3,887 trilhões. Em média, com a revisão, os valores correntes do PIB de 2000 a 2011 ficaram 2,1% acima dos valores conhecidos pela série antiga. Os anos de 2012 e 2013 também terão seus indicadores de PIB revisados pelo IBGE, informaram técnicos do instituto.

SALÁRIO MÍNIMO

As centrais sindicais já ensaiam procurar o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) para atualizar as contas referentes ao salário mínimo. Segundo o estudo técnico do Dieese o salário mínimo de 2013, que foi reajustado pelo PIB de 2011, deveria ter sido de R$ 686,31, e não de R$ 678,00, como efetivamente vigorou naquele ano. Quando os PIBs dos anos de 2012 e 2013 também forem revisados pelo IBGE as diferenças vão aumentar.

Uma das ideias das centrais sindicais é a de somar essas discrepâncias no salário mínimo nos últimos três anos e cobrar do governo federal que seja incorporado ao reajuste de 2016. Dirigentes das três maiores centrais sindicais do País afirmaram que haverá pressão sobre o governo para que aumente o salário mínimo. Foram consultados líderes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical e União Geral dos Trabalhadores (UGT).

“Se a regra do salário mínimo, fechada por Lula e por Dilma, coloca o PIB como fator de reajuste real dos salários e, agora, o PIB foi maior do que sabíamos antes, então é natural que isso chegue para os trabalhadores”, afirmou o presidente da Força, Miguel Torres, que também comanda o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.

AJUSTE FISCAL

Como o impacto da mudança tende a elevar o tamanho do PIB, empresas de consultoria preveem que a meta de superávit, fixada em R$ 66,3 bilhões, deixará de corresponder ao 1,2% do PIB anunciado pelo governo. Para manter o mesmo percentual, o esforço fiscal teria que subir de R$ 66 bilhões para R$ 71 bilhões, uma economia adicional de quase R$ 5 bilhões, “o que não é pouco”, advertiram.

Nas contas da mesma consultoria, a relação entre a dívida bruta e o PIB, que costuma ser observada com lupa pelas agências de classificação de risco, deverá recuar dos quase 64% de dezembro de 2014 para um pouco abaixo de 60%. A razão entre a dívida líquida do setor público e o PIB deverá cair de cerca de 37% para perto de 34%. Números melhores reduzem o risco de rebaixamento da nota de crédito do país.

Alguns consultores acham que “é irrelevante se o novo cálculo vai ajudar ou não o governo Dilma. O importante é que houve aprimoramento no cálculo. No final, o governo poderá até ter dificuldades para obter o superávit primário”, mas pode salvar o país da recessão em 2014. Por causa da mudança na metodologia, a previsão da MB de queda de 0,5% no PIB de 2014 deve ser revista para algo próximo a crescimento de 0,5%. A projeção de queda de 1% para este ano, 2015, está sendo mantida.

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