Há cem anos nascia Billie Holiday, consagrada como a grande cantora do jazz; por Jorge Rosa

Billie Holiday, a Lady Day do Jazz, completaria nesta data, dia 7, 100 anos de nascimento, mas sua vida trágica, foi encerrada em julho de 1959, aos 44 anos, vítima de cirrose. Consagrada como a grande cantora do jazz, Billie teve uma vida sofrida, resultado de uma história sórdida envolvendo prostituição e drogas, sanatórios, processos, prisões e essa dor ficou como característica da maioria de suas músicas. Hoje não há quem não se encante com sua voz e a letra de musicas, que se tornaram inesquecíveis, a exemplo de “I’ll Be Seeing You”, que embalou momentos da relação entre o ex-presidente Bill Clinton e a estagiária Mônica Lewinsky, segundo revelou a própria Mônica.

A questão do racismo não ficou fora de suas músicas e, por isso, chegou a ser citada como uma pioneira do movimento dos direitos civis. Em 1939, Billie interpretou “Strange Fruit”, pela primeira vez, no Café Society, no Greenwich Village, em Nova York, a canção que fala dos linchamentos de afro-americanos no sul do país, cujo corpo balançava numa árvore, e tornou-se o maior sucesso de sua carreira nos 20 anos seguintes.

CALÇADA DA FAMA

Apesar do expressivo sucesso popular obtido no período entre 1944 e 1950, quando gravava para a Decca, com 39 canções em 15 sessões de estúdio, tendo sido eleita a melhor vocalista do jazz pelas revistas “Down Beat” e “Metronome”, Billie nunca conseguiu constar da extensa lista de cantoras da época que atingiram a marca de um milhão de discos vendidos, como Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan.

Foi em um porão do Harlem, em Nova York, bairro afro-americano nos anos 1930, que John Hammond descobriu a vocalista. Para celebrar a ligação de Billie com o bairro, o Apollo Theater vai colocar o nome da intérprete na calçada da fama, ao lado de Ella Fitzgerald, James Brown, Louis Armstrong, Michael Jackson e Quincy Jones. Em sua homenagem a cantora Cassandra Wilson vai lançar “Coming Forth by Day”, disco em homenagem a Billie, durante uma apresentação no dia 10 no mesmo Apollo Theater.

Em sua discografia, seu charme incomparável surge por inteiro, a partir de 1935, nas gravações em que a participação do pianista Teddy Wilson é fundamental, “figurando entre as proeminentes glórias dos discos de jazz”, segundo o mais abalizado crítico atual, Gary Giddins. Gravou ao lado de várias seleções dos maiorais da época: Jack Teagarden, Roy Eldridge, Ben Webster, John Kirby, Johnny Hodges, a seção rítmica de Count Basie e, muito especialmente, o músico que a batizou de Lady Day, o exponencial saxofonista Lester Young,  teve um papel importante em sua carreira, e carinhosamente apelidou-o de “Prez“, presidente. A partir de janeiro de 1937, com menos de 22 anos, cantando “I Must Have That Man” com “Prez” ao sax tenor, Billie inaugurou a suprema combinação da amorosa voz de cantora com o delicado som do saxofone. Em 15 de março de 1959, poucas horas após retornar de Paris, onde gravara pela última vez, Young foi encontrado morto no quarto do Hotel Alvin, onde morava, defronte ao Birdland. Billie queria cantar durante a cerimônia do funeral, mas a família do saxofonista proibiu. Um mês depois, em abril, cantava pela última vez, no Storyville Club de Boston, “When Your Lover Has Gone”. Em 17 de julho de 1959, com 44 anos, Billie morreu vítima de cirrose.

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