Lula condena os petistas que “vivem de cabeça baixa” e pessimismo

O ex-presidente Lula ciente de que só revertendo o quadro de insatisfação da população poderá garantir a sobrevivência da legenda, arregaçou as mangas e partiu para a luta. Foi o que se viu na noite desta terça-feira, 31, quando os principais dirigentes petistas e sindicalistas se reuniram com Lula, em São Paulo, na quadra do Sindicato dos Bancários. Com um discurso inflamado, como é de seu estilo, o ex-presidente procurou afastar o pessimismo e levou a plateia ao delírio quando pediu aos militantes que não “vivam de cabeça baixa”. Lula lamenta a falta de uma “pauta positiva”, capaz de mostrar à população que o governo não está parado. João Vaccari Neto, tesoureiro do partido, acusado pela Operação Lava-Jato de receber propina, foi aconselhado a não comparecer ao evento.

“Nós temos que ir para a rua muitas vezes, mas não temos que ficar com raiva de quem está indo contra nós. Eu, às vezes, fico irritado – disse Lula – quando vejo companheiros dizendo que quem vai para rua contra nós são os que não prestam e nós somos os bons. Nós fomos contra Sarney, contra Collor, contra FHC, contra Geisel, contra Médici. É a primeira vez que estão indo contra nós. Eles têm direito.” A expectativa é de que nos próximos dois meses, o ajuste fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Levy, dê sinais de acerto, para que a segunda parte do 5º Congresso do Partido, programado para junho, em Salvador, não se torne apenas num palco para lamentações e críticas à presidente Dilma.

POPULARIDADE EM QUEDA

O pessimismo que assola o país ficou evidente nos resultados da pesquisa sobre a popularidade da presidente Dilma divulgados nesta data, (01/04), pela Confederação Nacional da Indústria – CNI/Ibope. Em março de 2011, quando começou o seu primeiro governo, Dilma tinha a confiança de 74% da população. Agora, no início de seu segundo mandato, o mesmo percentual de pessoas diz não confiar na presidente. O índice de desconfiança é o mais alto em 20 anos. Segundo a pesquisa, apenas 24% dos entrevistados dizem confiar na petista. O pior resultado havia sido registrado no início do segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1999. No fim daquele ano, o tucano tinha a confiança de apenas 27% da população. A pesquisa mostrou também a reprovação ao governo Dilma chegou a 64%.

A presidente perdeu popularidade em todos os estratos avaliados pela pesquisa, como combate à fome, ao desemprego e à inflação e impostos. Em dezembro, quando a última pesquisa CNI-Ibope foi divulgada, Dilma teve 40% de aprovação e 27% de reprovação. Agora, apenas 12% dos entrevistados avaliaram o governo positivamente, enquanto 23% o consideraram regular. A reprovação da maneira de governar da presidente também aumentou expressivamente, chegando a 78% da população. Apenas 19% dos entrevistados aprovam a maneira da petista de governar. Em dezembro, essa aprovação era de 52%.

São esses números que preocupam as lideranças petistas e acham que somente o ex-presidente Lula, como seu carisma, pode evitar uma desastre maior, como um movimento que deságue numa projeto pró impeachment. Mas, no evento realizado na data de ontem (dia 31/03), Lula garantiu que não haverá impeachment e “que é preciso respeitar as regras democráticas e esperar as próximas eleições para trocar o governo”.

DEFESA DE DILMA

Segundo Lula, o motivo maior da insatisfação contra o governo é o fato de que as pessoas que ascenderam socialmente durante os governos petistas, hoje querem mais ou têm medo de voltar atrás. Lula repetiu três vezes o ajuste fiscal era necessário e disse ter feito um ajuste ainda mais forte do que a presidente em 2003, quando assumiu a Presidência. “Agora a companheira Dilma tinha a necessidade de dar uma parada”, disse. Lula traduziu o ajuste fiscal e disse que a presidente fez o que todas as pessoas têm de fazer quando as contas aumentam, mas as receitas não. “Não é diferente da casa da gente”. O ex-presidente, então, apontou erros do governo. “Teve uma série de coisa que não dependeu de Dilma. Vamos ter claro que é importante eu também assumir, e cada um de nós assumirmos, nós cometemos equívocos”.

As lideranças petistas e o próprio presidente Lula depositam agora todas as suas esperanças em Edinho Silva, que depois de tesoureiro na campanha eleitoral da presidente Dilma e se transformou em ministro ao assumir a secretaria de Comunicação Social do Governo. Edinho, como é chamado nos meios petistas, é amigo de Lula, que lutou pela sua nomeação desde que o jornalista Thomas Traumann perdeu o cargo.

Na solenidade de posse esta semana, Edinho disse que “é inegável que é momento de turbulência, de ajustes. O que precisamos é estabelecer diálogo franco com a sociedade. Este governo tem credibilidade e pode exercer essa credibilidade mostrando o que vai ser feito no nosso futuro. Na minha gestão não tem tema proibido, não tem conflito que não possa ser explicado, não tem contradição que não possa ser esclarecida” — afirmou.

Para apoiar o diálogo, Edinho conta com uma verba de R$ 200 milhões ao ano para campanhas publicitárias, mas garante que manterá a distribuição baseada em critérios técnicos, ou seja, de acordo com circulação e audiência de cada veículo, respeitando diversidades regionais e culturais.

— Serei gestor zeloso para que a gente possa garantir boa utilização dos recursos públicos para chegar ao maior número de veículos — disse.

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