Ilana Trombka, diretora-geral do Senado: em busca de uma sociedade mais inclusiva
A relações públicas Ilana Trombka, atual diretora-geral do Senado da República, tem sua trajetória profissional marcada por um dos seus objetivos de vida: a busca da igualdade de gênero, a fim de garantir às mulheres as mesmas oportunidades que os homens, seja no ambiente familiar ou no trabalho. No cargo, ela também tem reforçado o desenvolvimento de ações que sintonizem cada vez mais o Senado com as questões socioambientais e outros temas que visem à melhoria das condições de vida, como a acessibilidade.
“A equidade de gênero busca a igualdade de oportunidades. o que, obrigatoriamente, significa abrir espaços que até então eram exclusivos”, lembra Ilana, que carrega na bagagem diploma de bacharel em Relações Públicas por uma das principais referências do Brasil na área de estudos da comunicação: a Faculdade dos Meios de Comunicação Social (Famecos) da PUC/RS.
Especialista em Direito Legislativo pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e mestre em Comunicação Social pela PUC/RS, Ilana acredita que grande parte da transformação social começa no núcleo familiar. E, para ela, uma das primeiras mudanças por quais a família brasileira precisa passar está relacionada ao papel das mulheres.
“Criou-se uma convenção social de divisão de poder no âmbito familiar; afinal, a última coisa que nossa sociedade desejava era ver a sua principal instituição como uma ditadura capitalista — quem detém o capital detém o poder. Assim se convencionou um reequilíbrio de forças: o homem tinha todo o mundo para conquistar, mas o lar era o espaço de dominação feminino. Enquanto a ele cabia sobrepujar barreiras da carreira, ela era a única responsável pelos afazeres domésticos e pela educação e saúde dos filhos. E assim caminhou a sociedade durante séculos”, diz Ilana.
Com experiência na vida acadêmica, tendo sido professora do curso da Comunicação do Uniceub e do Instituto Legislativo Brasileiro (ILB), Ilana diz que os papéis até hoje exercidos pelo homem e a mulher na sociedade precisam ser renovados, por se tratar de uma exigência nos tempos atuais, onde não cabe mais a supremacia de gênero.
Ilana Trombka : Reorganizar a vida familiar e doméstica
“Reorganizar a vida familiar e doméstica é mister para não criar mulheres que são escravas de suas conquistas. Ao dividir atribuições e responsabilidade se contribui para que a chamada nova masculinidade se conecte com as dificuldades e os prazeres de conviver mais com os filhos e na construção de um discurso de igualdade vivido na prática”, ressalta a diretora do Senado.
Nesse contexto, ela aposta no compartilhamento de atribuições entre homens e mulheres. “É necessário confiar neles, nossos maridos e companheiros, para compartilhar as atribuições do lar e o bem-estar de nossos filhos. Até porque não existe nada mais incongruente do que falarmos em igualdade aplicada apenas às mulheres do que lutarmos por equidade desde que seja para ocupar o espaço do outro”, afirma Ilana, que também é especialista em planejamento estratégico.
“Chegou o momento de a mulher alargar suas fronteiras para além das portas de suas casas e, lentamente, começamos a ocupar espaços no mercado de trabalho”, enfatiza a diretora-geral do Senado.
“Cansamos de estar atrás. Resolvemos estar junto com os grandes homens e — por que não? — na liderança por vezes. Mas ocupar espaços no mercado de trabalho exige tempo. São necessárias dedicação, disponibilidade para formação constante e até viagens que nos obrigam a ficar ausentes de nossas casas”, ressalta, acrescentando que, nesses momentos, é necessário que os homens compartilhem as atividades domésticas.
Ilana fala com a autoridade de quem tem seu trabalho marcado por ações efetivas pela equidade de gênero e combate a violência contra a mulher no cenário público federal, como o Programa de Assistência a mulheres em situação de vulnerabilidade econômica em decorrência de violência doméstica.
A diretora-geral do Senado pontua que a atual gestão da Casa tem o compromisso de alcançar a igualdade de gênero e empoderar as mulheres. “Esse compromisso é previsto pelo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5, conhecido como ODS 5 da Organização das Nações Unidas (ONU). Para isso, o Senado realiza treinamentos, cursos e palestras. O que a gente pretende é trabalhar a cultura da entidade.”
Nesse contexto, Ilana fala sobre uma ação do Senado voltada às mulheres vítimas de violência doméstica. Segundo ela, o Senado é pioneiro na criação de uma cota para mulheres vítimas de violência. Em todos os contratos de terceirização de mão de obra do Senado, com mais de 50 postos de trabalho, 2% são reservados para mulheres em situação de vulnerabilidade em decorrência de violência doméstica.
“Hoje, nós temos no Senado um grupo de 24 mulheres que foi protegido pela Lei Maria da Penha e acompanhado pelos órgãos de assistência social. Com isso, elas conseguiram recuperar a autoestima, voltar a ter independência econômica e reconstruir a sua história de vida a partir do emprego em uma empresa terceirizada do Senado.” De acordo com ela, a expectativa é que até 2021 o número de vagas ocupadas por mulheres vítimas da violência doméstica chegue a 50.
“Essa é uma experiência incutida, educativa e transformadora que o Senado tem muita honra de ser o pioneiro e muita vontade de expandi-la para todos os órgãos legislativos do país”, enaltece a diretora-geral do Senado.
Boas práticas socioambientais
O Senado tem que ser um exemplo de disseminação de boas práticas sociais para os demais órgãos públicos e para o setor privado, costuma dizer Ilana Trombka. Para tanto, ela aposta na comunicação como ferramenta para levar adiante a mensagem sobre a necessidade de construção de uma sociedade mais inclusiva, com a melhoria geral das condições de vida.
“O Senado Federal já está na segunda rodado de seu plano de gestão de logística sustentável. Ou seja, já vamos para quatro anos da implantação desse modelo. No entanto, nossa história com a questão socioambiental é bem mais antiga. Antes, tínhamos o Senado Verde”, recorda a diretora-geral da Casa.
Agora, assinala Ilana, há um movimento crescente pela questão socioambiental no Senado.
“Isso se tornou um objetivo, com a busca de metas que estejam sintonizadas com o atual momento da sociedade. Por isso, é muito importante que todos esses movimentos de logística sustentável, de meio ambiente, de acessibilidade e de equidades sejam adequadamente disseminados entre todos os servidores do Senado”, sublinha Ilana, para quem algumas das boas práticas da Casa podem, inclusive, ser adotadas por outros órgãos e corporações privadas.
Na avaliação de Ilana, a comunicação institucional é estratégica para fazer com que as ações socioambientais do Senado tenham repercussão. “Para tanto, precisamos de uma comunicação efetiva. Senado Federal contamos com uma comunicação interna muito bem-estrutura, com um site, que todos os dias traz novas notícias, que têm ampla divulgação e ótima audiência. Então, a comunicação interna é um dos meios, talvez o principal deles, através do qual podemos disseminar as boas práticas do Senado Federal”, observa a diretora-geral da Casa Legislativa.
Ela defende ainda que a política socioambiental não fique apenas no discurso, mas que faça parte das atividades de todos que fazem parte de uma organização, no caso do Senado, os senadores, os assessores, os servidores e estagiários. Como exemplo, cita a redução de 17% no consumo de energia no Senado entre 2015 e 2018. “Isso foi feito com o uso mais racional do ar condicionado. Nesse período, não houve diminuição do volume de trabalho. Ao contrário.”
Outro exemplo de sustentabilidade citado por Ilana é feira de produtos orgânicos que funciona no Senado todas as terças-feiras pela manhã. “Além da dar oportunidades para produtores de alimentos sem agrotóxicos, a fim de tenham melhores resultados econômicos, a nossa feira orgânica trabalha a questão da educação alimentar, ou seja, como ter uma dieta mais saudável.”
A diretora do Senado destaca ainda a importância de que as iniciativas socioambientais não sejam desenvolvidas isoladamente. Por isso, considera fundamental a participação em projetos que envolvam outros órgãos. “O Senado sabe que uma andorinha só não faz verão e que ninguém muda o mundo sozinho. Por isso, buscamos a cooperação com outros parceiros.”
Dentro dessa política, conta Ilana, o Senado participa da Rede Legislativo Sustentável. Ela é composta pelo Senado, Câmara dos Deputados, Supremo Tribunal Federal, Tribunal de Contas, Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Superior do Trabalho, Tribunal de Justiça do DF e outros órgãos que buscam compartilhar boas práticas, fomentando, ensinando e fortalecendo essas ações.
“Muitas vezes, na troca de experiências, a gente tem oportunidade de melhorar a nossa ação organizacional e também de poder, com a experiência dos parceiros, transpor eventuais obstáculos”, afirma Ilana, para quem a construção de uma sociedade sustentável passa pela conscientização das pessoas, aliada à prática e à cooperação.
Para ela, a implantação de ações socioambientais ou de proteção às mulheres vítimas da violência dependem muitos mais de boa vontade e organização administrativa do que efetivamente uma linha de crédito ou de um grande volume de recursos orçamentários-financeiros.
“É na cooperação que está o futuro das organizações”, reforça a diretora-geral do Senado, uma pessoa sempre disponível para falar sobre igualdade de gênero e boas práticas sustentáveis no serviço público e nas corporações da iniciativa privada, temas que não só a fascinam como ocupam parte de sua vida profissional e pessoal.
Trajetória profissional de Ilana Trombka
No Senado Federal desde 1998, Ilana ocupou vários cargos antes de chega à diretoria-geral. Entre eles, o de analista legislativa, assessorando a área de comunicação social e fazendo o planejamento, controle, acompanhamento, proposição de normas internas, coordenação e execução especializada referentes a trabalhos em comunicação social em rádio e TV, relações públicas, assessoria de imprensa, marketing, publicidade e propaganda, mídias sociais, jornalismo e produção de conteúdos para serem divulgados e distribuídos por meios impressos e eletrônicos; e outras atividades.
Ela também já foi diretora da Secretaria de Relações Públicas do Senado. Nesse cargo, era responsável por estruturar o planejamento estratégico das atividades de RP; favorecer os fluxos de comunicação e interação entre a instituição e seus distintos públicos, externos e internos, contribuindo com os setores da Casa; executar programas e projetos de RP dirigidos às diversas áreas de atuação do Senado Federal, incluindo cultura, educação, meio ambiente e responsabilidade social; e conceber e implementar ações de RP que proporcionem à sociedade a percepção do papel institucional do Senado e do Poder Legislativo. Ilana comandou ainda a coordenação de formação e atendimento à comunidade do programa Interlegis.
No cargo, era responsável pelo atendimento, informação e avaliação do público-alvo do ILB; elaboração de diagnósticos da demanda de informações para os usuários, como método de avaliação de abrangência e resultados das ações administrativas vinculadas às finalidades das ações desenvolvidas pelo Instituto. A relações públicas atuou também como assistente da Secretaria de Coordenação Técnica e Relações Institucionais da Presidência do Senado, desenvolvendo o relacionamento com instituições e articulando estratégias para estabelecer parcerias com outros órgãos. Antes de chegar ao atual cargo, foi diretora-geral adjunta do Senado.
Além do Senado, Ilana também trabalho no Poder Executivo. Ele foi da assessoria parlamentar do Ministério da Integração Nacional, onde tinha a atribuição de assessor o ministro em relação às questões legislativas em tramitação no Congresso Nacional e interesse da pasta, além de acompanhar o andamento das demandas dos deputados e senadores.
Além de participar da criação do Grupo Mulheres no Brasil – seção Distrito Federal, Ilana é cofundadora da Frente Parlamentar do Programa Antártico Brasileiro, que tem entre seus objetivos incentivar a continuidade das pesquisas realizadas por cientistas brasileiros no Continente.
Também é membro do Conselho de Administração FINAME, do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e membro do Conselho Editorial do Senado Federal. Em 2018, foi finalista do Prêmio Viva e vencedora de duas edições do Prêmio Opinião Pública.
Paralelamente as atividades que desempenha, hoje à frente da direção-geral do Senado da República, Ilana Trombka ainda encontra tempo para produzir artigos acadêmicos sobre temas relacionados ao seu trabalho, sempre voltados à melhoria das organizações. Ela acredita que esse é o caminho para a construção de uma sociedade mais inclusiva e com maios oportunidades para todos, visando reduzir a desigualdade e distâncias sociais para que o futuro seja de menos sofrimento e de mais alegria para a população brasileira, tanto do serviço público como no setor privado.