Dilma, mais humilde, diz que errou para defender 20 milhões de empregos

A presidente Dilma está empenhada em abrir diálogo com todos os setores da sociedade, colocando em prática conselhos do ex-presidente Lula que insistia na necessidade da presidente ser mais humilde e de se aproximar mais das lideranças políticas, especialmente a base aliada no Congresso. Em conversa com os jornalistas esta semana, no Planalto, após a solenidade de sanção do novo Código de Processo Civil, a presidente Dilma não chegou a reconhecer que errou ao adotar algumas medidas, que acabaram por comprometer a saúde financeira das contas públicas. Mas, avançou muito ao admitir que houve apenas um “erro na dosagem”.

Depois que o presidente da Casa, Renan Calheiros, devolveu ao Executivo a MP 669, que acabava com a desoneração da folha de pagamentos de empresas, a presidente Dilma disse que a aprovação do ajuste fiscal, que agora tramita no Senado em forma de projeto de lei, é fundamental para equacionar as contas públicas e pediu apoio às propostas do Executivo. Dilma tem enfrentado resistência de lideranças governistas, de Eduardo Cunha, da Câmara, e de Renan Calheiros, que se recusam a colocar em votação projetos sem o prévio entendimento com os parlamentares e ameaçam colocar em votação matérias sem aval do Planalto, atendendo às vezes pressões da oposição.

DISPOSTA AO DIÁLOGO

Sobre as manifestações públicas nesse domingo, dia 15, e que levou mais de dois milhões de pessoas às ruas de todo o país, segundo estimativas mais moderadas, a presidente Dilma fez o seguinte comentário:

– Tenho certeza que o que queremos é um lugar em que todos possam exercer seus direitos pacificamente, sem ameaças, desrespeitos às liberdades civis e às liberdades políticas. Um País que, amparado na separação, independência e harmonia dos poderes, na democracia representativa, na livre manifestação popular nas ruas e nas urnas, se torna mais impermeável ao preconceito, à intolerância, à violência, ao golpismo e ao retrocesso. A credibilidade das instituições e a preservação das regras da democracia são os melhores antídotos contra a corrupção, a intolerância e a violência. É com a democracia que se vencerá o ódio, que se combaterá corruptores e corrompidos. Nós respeitamos as ruas, um dos legítimos espaços de manifestação popular, pacífica e sem violência. Respeitamos e ouvimos com atenção todas as vozes, de todos os matizes, de todas as tendências. Por isso o governo sempre irá dialogar com as manifestações. Ouvir é a palavra, dialogar é a ação. O sentimento tem de ser de humildade e firmeza, enfatizou.

A presidente Dilma deixou evidente que reconhecer seus erros lhe exige um enorme esforço. Ela até admite que a dosagem não foi correta, mas acrescentou: “o que eu não posso concordar é aceitar ser responsabilizada por algo que seria pior se deixássemos. Nós seguramos – comparando com o resto do mundo – os 20 milhões a mais de emprego”.

“Se cometemos algum erro de dosagem (da política econômica), é possível que a gente possa até ter cometido algum. Agora, qual foi o erro de dosagem que cometemos? Gostaríamos muito que houvesse uma melhora econômica de emprego e renda. Tem gente que acha que a gente tinha de ter deixado algumas empresas quebrarem e os trabalhadores se desempregarem. Eu tendo a achar que isso era um custo muito grande para o País. É possível discutir se podia ser um pouco mais ou um pouco menos. Mas isso não explica por que estamos nessa situação. O que explica é um fato constatado: a economia não reagiu. Ninguém pode negar que fizemos de tudo para a economia reagir. Podem falar: era melhor deixar quebrar. Eu não acredito nisso. Em qualquer atividade humana se cometem erros. Longe do meu governo achar que não cometeu erro nenhum”, explicou a presidente Dilma.

SENHORA IDOSA

Provocada pelos jornalistas, a presidente demonstrou que ficou irritada com as declarações do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que atribuiu ao Executivo a responsabilidade pelos atos de corrupção no país. Dilma não negou que membros do Executivo estejam envolvidos em casos de corrupção, a exemplo de diretores da Petrobras, que foram presos por conta das denúncias da Operação Lava-Jato, mas justificou com a observação de que a corrupção é coisa muita antiga no Brasil.

Em sua visão, “a corrupção não nasceu hoje, ela não só é uma senhora bastante idosa neste País, como ela não poupa ninguém, pode estar em tudo quanto é área, inclusive no setor privado. Vamos lembrar o que ocorreu em 2008-2009, quando pelo menos uma das questões foi fraude bancária. O dinheiro tem esse poder corruptor, temos de ter vigilância, instituições, legislação pra impedir que ocorra. Não vamos achar que tem qualquer segmento acima de qualquer suspeita. Isso não existe. E acho mais: o combate a corrupção começa através de um processo educacional. O fato de você não querer ganhar vantagem em tudo, de você valorizar o trabalho, a pessoa que conquistou as coisas com seu próprio valor”. 

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