Le Monde: PT perdeu brilho e capacidade de mobilizar. Por Pierre Pichoff
O Brasil está no meio de um caos político. A informação vem do órgão oficial de comunicação da presidência do Brasil, diagnóstico que se tornou público a partir do vazamento de um documento. “Não vejo nenhum caos político”, negou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que pareceu um pouco ultrapassado pela situação. O escândalo da Petrobras, estatal controlada pelo governo, e dos gigantes da construção e obras públicas abalou a coalizão do governo. O Partido dos Trabalhadores (PT) da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula (2003-2010) perdeu o seu brilho, assim como sua capacidade de mobilizar o povo brasileiro, avaliou o jornal francês Le Monde em artigo intitulado “Le Brésil face au “chaos politique”.
De acordo com a pesquisa DataFolha, 84% dos brasileiros acreditam que a presidente estava ciente do esquema de corrupção. No dia 15 de março, dois milhões de manifestantes protestaram em dezenas de cidades. “Existe agora um Brasil antes e depois do 15 de março”, escreveu a famosa colunista brasileira Eliane Cantanhede.
Uma parte da opinião publica e dos políticos se expressa de uma maneira histérica. Por um lado, é preciso ter um “impeachment”, o que significa, um processo para destituir o chefe de estado, sem saber onde isso levará o Brasil. Por outro lado, eles querem um “golpe de Estado”, como se a cruzada de Putin contra a Ucrânia deveria ser imitada.
Outros analistas mais razoáveis prevêem um mandato presidencial reduzido na mediocridade com s presidente Dilma Rousseff enfraquecida, uma economia andando devagar e um descontentamento social crescente. Em suma, a situação é desesperadora, mas não é grave ….
A surpresa sobre o tamanho da corrupção impede de entender a origem do mal. Certamente, o governo brasileiro está confunde o privado e público, pelo menos, desde a construção de Brasília. Mas os desvios dentro de empresas controladas pelo Estado não pode ser explicados como um simples “sempre foi assim”. Refere-se a um sistema político em metástase, com trinta partidos representados no Congresso, a maioria deles sem outro propósito além de atrair os emolumentos do Estado.
Alianças oportunistas
A ditadura militar (1964-1985) tinha deixado funcionar o poder legislativo. Na época, os candidatos para as eleições municipais e regionais, da mesma maneira que no Congresso, foram obrigados a canalizar suas diferenças através de dois grandes partidos, representando a maioria favorável ao regime e a oposição. Herdeiro da última entidade, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) perdeu a hegemonia para dois outros partidos, o PT (fundado em 1980) e o Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB, fundado em 1988). O PMDB permaneceu uma poderosa federação de eleito sem identidade política. O PT de Lula e o PSDB do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) adotou um perfil reformador e modernizador, mas, uma vez no poder, decepcionaram, e isso por várias razões.
A principal razão dessa decepção reside na formação de alianças que podem ser caracterizadas como “oportunistas”, formadas sem acordo programático mas apenas para ter uma maioria parlamentar. Por que o PT e o PSDB preferiram buscar aliados de outros partidos em vez de unir suas forças? Originalmente, a explicação vem do fato que esses dois partidos eram concorrente do mesmo terreno eleitoral, o grande estado de São Paulo, o mais populoso e tão rico quanto a Argentina.
Ambos esses partidos foram buscar um apoio no centro (PMDB) e na direita.
Qual é o alvo deles? Os trinta e nove ministérios do governo Dilma Rousseff e as 23.500 vagas – três vezes mais do que os EUA – que controlam o país.
Litígio entre os três poderes do governo
Durante 20 anos, este sistema se revelou como um obstáculo às reformas importantes. Hoje o governo implode através do Petrolão, por não ter aprendido as lições do anterior escândalo do “mensalão”, em 2005. A única pessoa a ter denunciado publicamente o absurdo do antagonismo entre PT e o PSDB foi Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente do primeiro governo Lula, candidata do Partido Verde para a presidência da República em 2010 e candidata do PSB em 2014 que havia coletado a cada vez no primeiro turno, respectivamente 20 e 22 milhões votos. Marina Silva disse na televisão o que muitos “caciques” de ambos os partidos admitem “em privado” e de forma anônima.
Marina Silva estava certo, a situação é insustentável. A ingovernabilidade já está lá, na disputa entre os três poderes do governo. A solução não pode ser de esperar qualquer alternância em 2018 nem de aceitar o “caos político” como inevitável. Precisa mesmo de uma reforma da política e dos financiamentos das campanhas eleitorais. Como os brasileiros costumam dizer, é preciso “virar a mesa” mudar as regras do jogo para reinventar a democracia.
Mãe de todas as reformas, a reforma política é importante demais para ser confiada nos políticos do PMDB, que são os beneficiários do sistema atual. Nem Rousseff nem o PT não podem vencer sozinhos esta crise. Os reformadores do PT, PSDB e outros – como Marina Silva – deverão enfrentar juntos o desafio, se eles não querem sofrer uma nova configuração de forças conservadoras e populistas.