"Dropped", o reality show que virou sinônimo de luto no esporte francês, por Pierre Pichoff
A França está em luto. Oito franceses morreram, nesta segunda-feira (9), na colisão em voo de dois helicópteros na Argentina, entre eles, três atletas olímpicos: a nadadora Camille Muffat, a navegadora Florence Arthaud e o boxeador Alexis Vastine. Os famosos atletas estavam participando da gravação de um novo reality show da televisão francesa chamado “Dropped”.
O poderoso canal francês TF1, TV aberta com audiência comparável à da Rede Globo no Brasil, comprou os direitos desse jogo sueco, ainda em fase de produção e inédito no país. O reality iria mostrar dois times de quatro esportistas famosos colocado em um teste de sobrevivência, do qual três deles, tragicamente. não conseguiram passar antes mesmo da atração ser veiculada.
“Nós não sabemos as circunstâncias exatas. A única coisa que posso dizer é que estamos totalmente transtornados”, disse o presidente da TF1, Nonce Paolini, nesta terça (10).
O principio do reality show seria “soltar” (por isso o nome ‘drop’ em Inglês) os candidatos de helicóptero em um lugar remoto de qualquer área habitada, e deixá-los a encontrar, sem mapa ou bússola, um local capaz de recarregar seu telefone celular. O desafio era ligar para o apresentador do programa. Caberia aos candidatos, ex-atletas profissionais, atender às suas próprias necessidades. Cada semana, no final de uma prova, o time perdedor teria que eliminar um de seus membros.
“Pessoas fora do normal” em terrenos difíceis
Produzido pela empresa “Line Productions”, a mesma produtora de outras atrações francesas como “Koh Lanta”, um equivalente ao programa “Survivor” ou o brasileiro “No Limite”, e “Fort Boyard”, um jogo que reúne celebridades durante dois dias em desafios físicos e intelectuais, o Dropped seria apresentado por Louis Bodin, o antigo “garoto do tempo” da TF1. Ele criou grande expectativa em relação ao programa quando foi ao ar na semana passada explicando o conceito de “Dropped: “colocar” num terreno difícil, pessoas “fora do comum”, que têm “uma capacidade alta de adaptação” para uma aventura “em harmonia com a natureza.” Bodin não estava no acidente.
Além dos atletas que faleceram, gravaram o programa o nadador Alain Bernard, que ganhou de César Cielo nas Olímpiadas de 2008; a ciclista Jeannie Longo; o jogador de futebol e campeão do mundo Sylvain Wiltord; a snowboarder Anne-Flore Marxer e o patinador Philippe Candeloro.
O reality já contava com um programa gravado, em Ushuaia, no sul da Argentina, no qual Wiltord havia sido eliminado.
Os atletas estavam sendo levados de helicóptero, de olhos vendados, sem saber onde iriam pousar antes, apenas com uma reserva de água e um GPS, por segurança.
“A logística e as condições de vida em lugares desse tipo, um pouco longe de tudo são muito complicadas”, disse Louis Bodin no jornal Le Figaro antes da tragédia.
“Se o acidente for culpa somente dos helicópteros, eu não acho que haverá um forte impacto com a imagem da TF1”, avaliou Philippe Bailly, consultor para NPA Conseil, uma renomada empresa de comunicação.
Não é a primeira tragédia que marca a história dos realitys shows na França. Em 2013, durante a gravação do “Koh Lanta”, um candidato morreu de ataque cardíaco e o médico do programa se suicidou.